Marilyn Monroe: os 50 anos da morte da mulher triste que deixava os outros felizes
Marilyn Monroe morreu há cinquenta anos, em 5 de agosto de 1962
Milton Ribeiro
Em Os Desajustados (The Misfits, 1961), último
filme com Marilyn Monroe, há uma cena em que Gay (Clark Gable), olha
para Marilyn e diz que ela é uma mulher triste. Ela responde que ele é
único a perceber isto, já que todos acham-na feliz. Gable então replica
dizendo que ela é uma mulher triste que deixa os outros felizes. O
dramaturgo Arthur Miller certamente estava pensando em sua esposa
Marilyn Monroe quando escreveu o roteiro do filme. Ali, ele não somente
prestava homenagem a ela, dando-lhe uma personagem que não era somente
caras e bocas, mas fazendo-lhe uma curta e poética definição. É um
grande momento do cinema. Restitui a integridade de uma mulher que devia
servir apenas ao divertimento do mundo.
Porém, a morte de Marilyn Monroe, ocorrida há 50 anos, no dia 5 de
agosto de 1962, foi um exemplo de indignidade. É certo que a atriz
tomava muitos remédios e era bastante problemática — mas é muito
provável, quase certo, que haja coadjuvantes no ato final e que estes
coadjuvantes fossem representantes de protagonistas da vida pública
norte-americana. A notícia de sua morte chocou o mundo, tendo
prevalecido a versão da overdose por barbitúricos. Mas ninguém sabe ao
certo o que aconteceu naquela noite. Ouviram-se helicópteros. Uma
ambulância foi vista esperando fora da casa antes que a empregada desse o
alarme. As gravações de seus telefonemas sumiram, assim como o
relatório da autópsia. Os amigos de Marilyn que tentaram investigar o
caso receberam ameaças de morte. A documentação do FBI foi suprimida.
Todos os caminhos para o esclarecimento de sua morte foram fechados,
sinal de que ela se envolvera com algo que, naquela época, era maior do
que ela.
Marilyn era uma
belíssima mulher e
uma aceitável atriz. Foi dona de uma capacidade
fotogênica miraculosa, imbatível carisma, beleza, sensualidade e
simpatia. Realizou grande atuação em seu último filme, o citado Os Desajustados,
onde fez muito bem um papel bastante complicado. Em sua defesa, pode-se
dizer que seus outros filmes eram comédias românticas que não lhe
exigiam grande coisa. Quando lhe foi exigido mais, como em Quanto mais quente melhor (Some like it hot, 1959), também respondeu à altura.
Uma das célebres cenas de O Pecado Mora ao Lado (1955)
Seu verdadeiro nome era Norma Jean Mortenson, mas logo foi mudado
para Norma Jean Baker. Ela nasceu no dia 1º de junho de 1926 no County
Hospital, em Los Angeles, e era a terceira filha de Gladys Pearl
Baker. A confusão do nome deve-se ao fato de não se saber quem foi o
verdadeiro pai biológico da atriz. O nome do pai, na certidão de
nascimento, foi o Edward Martin Mortensen, mas este sempre negou a
paternidade, pois quando ele se separou da mãe de Marilyn, em 1924,
Gladys ainda não estava grávida. Mortensen viveu até os 85 anos de idade
e, após sua morte, foram encontrados documentos que mostravam que ele
pediu divórcio de Gladys em março de 1927, não em 1924, e Norma Jean
nasceu em 1926. Ou seja, o caso não é claro, ainda mais que a Gladys
teria um caso com Charles Stanley Gifford, um vendedor com quem ela
trabalhou até ser levada a uma instituição psiquiátrica por problemas
psicológicos. Gladys teria confidenciado a amigos que o pai de Norma
seria Gifford.
Gladys Pearl Baker e Charles Gifford
Marilyn começou a carreira em alguns pequenos filmes — à exceção de uma boa participação em A Malvada (All about Eve,
1950), de Joseph Mankiewicz — , mas seu notável charme, beleza e
frequente presença em eventos levaram-na logo a conquistar papéis em
filmes dos grandes estúdios. Mas isso toda candidata à estrela faz e não
chega ao grau de notoriedade de MM. É que junto à sensualidade e
intensidade, Marilyn transpirava vulnerabilidade e inocência, tornando-a
querida no mundo inteiro, mesmo quando as notícias sobre seu estilo de
vida eram divulgadas. Seu rosto e jeito eram uma explosiva combinação de
menina frágil e inocente, dominante e sedutora.
Marilyn saudando as tropas americanas na Coreia. Adivinhem se não houve uma enorme confusão?
No dia 14 de janeiro de 1954, Marilyn casou com seu namorado, o
jogador de beisebol Joe DiMaggio. Durante a lua de mel em Tóquio,
Marilyn fez uma performance para os militares que serviam na Coreia. A
sua presença causou quase um motim, e Joe se mostrou claramente
incomodado com aqueles milhares de homens desejando sua mulher. E seguiu
se incomodando após o assédio da Coreia. Ela era muito cobiçada, sua
beleza chamava atenção e, na verdade, isso causou brigas e ciúmes com
todos os homens com quem se relacionou.
Não era muito fácil manter uma relação amorosa com mulher tão desejada
Nove meses depois, separaram-se. Em 1955, logo após o imenso sucesso de O Pecado mora ao Lado (The Seven Year Itch,
1955), de Billy Wilder, Marilyn desejou livrar-se da imagem de furacão
loiro. Queria seguir com seriedade a carreira de atriz e mostrar que era
mais que uma mulher que atiçava o imaginário masculino. Ela mudou-se de
Hollywood para Nova York a fim de estudar na escola de atores de Lee
Strasberg. Em 1956, Marilyn abriu sua própria produtora, a Marilyn
Monroe Productions. A empresa produziu os filmes Nunca Fui Santa (Bus Stop, 1956), de Joshua Logan e O Príncipe Encantado (The Prince and the Showgirl,
1957), dirigido e estrelado por Laurence Olivier. Não eram ainda filmes
satisfatórios nem “sérios”, mas em 1959 Marilyn brilhou em Quanto Mais Quente Melhor (Some Like It Hot),
de Billy Wilder — uma comédia altamente satisfatória sob qualquer
ângulo, onde estava ao lado de Jack Lemmon e Tony Curtis – , tendo seu
trabalho reconhecido ao vencer o Globo de Ouro de “Melhor Atriz de
Comédia”.
A excelente atriz de Os Desajustados era muito insegura como atriz e jamais dispensava sua "treinadora"
No dia 29 de junho de 1956, Marilyn casou-se com seu novo namorado,
o dramaturgo Arthur Miller. O próprio confessava que ela o deixava de
“joelhos bambos”. Enquanto estavam casados, Miller escreveu o papel de
Roslyn Taber de Os Desajustados, especialmente para Marilyn. Segundo Fernando Monteiro, este talvez seja o melhor roteiro já escrito para o cinema, com um argumento tão perto da vida que o espectador parece poder tocá-la com a mão. A
história dos quatro perdedores dirigidos por John Huston e estrelados
por Clark Gable e Montgomery Clift, acabou sendo o último filme completo
de Marilyn e a despedida das telas de Gable.
Cinquenta anos depois de sua morte, o fascínio que Marilyn Monroe
exerce sobre as pessoas não para de crescer. É curioso que uma atriz que
tinha tão pouca auto-estima profissional — ela chegava ao ponto de
possuir uma espécie de professora ou treinadora (Paula Strasberg) que a
acompanhava e orientava em todas as cenas e que entrava em conflito com
os diretores de seus filmes — seja hoje o maior ícone do cinema em todos
os tempos. Mas o que matou Marilyn não foram seus filmes. Sua morte,
foi, provavelmente, resultado de uma mágica que ela sempre soube possuir
e que nós podemos comprovar até hoje, vendo-a cristalizada numa foto ou
movimentando-se num filme. Só que Marilyn, em sua opinião, jamais
conseguiu unir tal facilidade com sua noção ideal de amor.
A mais fotogênica das mulheres -- sem exagero, são milhares de fotos perfeitas
.oOo.
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